3.1.07

A crise da personagem...

Construir uma personagem poderia ser uma tarefa nobilitante, pois pressupõe que se olhe em redor e que se seleccione um conjunto de traços verosímeis, tanto físicos como de carácter. Com esses traços, poderíamos construir uma figura mais ou menos emblemática.
No entanto, para que a construção da personagem resulte não basta olhar, é preciso saber escutar. E, aqui, coloca-se o maior problema: o que fazer com o que escutamos? Se optarmos pela "reprodução das vozes", a personagem torna-se medíocre, reles, pois as "palavras" para além de pobres são cada vez mais ignóbeis, retratando uma sociedade decadente, alheada das grandes questões colectivas...
Desde o realismo que a tendência para que a personagem decalque o carácter se vem acentuando, gerando mimeticamente um homem cada vez mais desumanizado e, concomitantemente, pondo em causa a força educativa da personagem.
A personagem deveria ajudar o homem a melhorar a sua linguagem, o seu comportamento; a personagem deveria ajudá-lo a superar as suas fraquezas... a construir a cidade dos «homens bons».
Mas não, hoje preferimos a caricatura, preferimos o coro das harpias... e onde há coro dificilmente há democracia!

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