20.11.06

Um futuro de servidão...

Vi-me, hoje, obrigado a cancelar uma ida ao teatro. Um teste impede que os "meus" alunos possam ver a peça "Galileu", na véspera do dia da "Cultura Científica". Segundo argumentaram, precisam de se deitar cedo. O que pensará o velho Galileu deste bom senso em criaturas tão juvenis?
Sem querer imiscuir-me em assunto tão melindroso, creio, no entanto, que os problemas equacionados por Bertolt Brecht os poderiam ajudar a raciocinar e a compreender que a razão soçobra facilmente perante o fanatismo dogmático - religioso ou escolástico.
Esta forma tão ajuizada de estar anuncia um futuro de servidão.
(...) O exame que começou por ser de consciência, exigindo a autoridade do director espiritual, aferrolha, hoje, o livre arbítrio, decidindo mecanicamente do destino de cada jovem que ousa olhar o futuro... enquanto Galileu fica no sótão a espreitar o movimento dos astros...
(Cancelar uma ida ao teatro é uma actividade que dá sentido ao funcionário que elimina o desperdício...)

1 comentário:

  1. Viva o funcionalismo público! Viva o público funcionalismo! Sejamos todos funcionários! Sejamos todos, todos, todos funcionófilos, amigos e solidários!
    Cumpramos todos todas as regras estritas e os horários de montra em letra miúda! Assumamos o zelo de estar, de estar apenas no cumprimento do dever! Mesmo do dever de permanecer.
    É bom permanecer. Melhor ainda se for na escola. Como professor. Como professor-funcionário. Como professor-funcionário-atendedor de clientes pouco ocupados e muito apressados. Ocupemos, pois, e plenamente, os clientes pouco ocupados e muito apressados! Ocupêmo-los e passêmo-los, mais rápido ainda que em qualquer loja! Os clientes têm sempre razão! Os clientes não têm quotas, têm razão. E sempre. E agora mais ainda. É preciso renovar os clientes. É preciso certificá-los, a bem ou a mal, e diplomá-los, mesmo que apenas a mal. E não sacrificá-los, não, nunca!
    Sacrifiquem-se, sim, os professores-funcionários-atendedores, que é para isso que lhes pagam, que lhes paga quem pode e quem manda. E quem pode e quem manda já lhes paga demasiado, e mais pagará se forem muito bons e excelentes e titulares, se forem professores-funcionários-atendedores-titulares. Sacrifiquem-se todos a eito!
    E quando for hora de deixar o altar do sacrifício, não havendo já palavras,arranjemos força suficiente para fazer um manguito à pouca sorte que tivemos e a quem no-la foi tirando aos poucos...

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