7.11.06

No país do fado e da morna...

(Descobri recentemente que a norma se relativizou de tal modo que ninguém sabe onde procurá-la. Desolado, dei comigo a pensar que o Instituto da Língua fora demolido deixando para trás uma suave nostalgia. Cheguei mesmo a perguntar aos meus actuais alunos se sentiam alguma nostalgia da norma. Indiferentes, nada responderam.)
Há cerca de 20 anos, uma planificação da disciplina de Português, para além dos conteúdos linguísticos e discursivos, incluia obrigatoriamente conteúdos literários e culturais. O advérbio, nesse tempo, ainda não tinha sido promovido nem a adjunto nem a disjunto!
Creio que obrigatoriamente, já nessa época, seria um advérbio disjunto, pois ele exprimia uma forte convicção do formador com efeito perturbador no formando.
Muitos dos formandos, ao contrário de uma inexplicável minoria que tudo compreendia, silenciavam expressões de rejeição, pois, por mais que explicasse a tipologia, jamais conseguiam produzir uma planificação a médio prazo que integrasse os conteúdos culturais.
Pensava, nessa época, que a aposta nos conteúdos linguísticos, discursivos e literários pressupunha a existência de uma ou mais culturas. E por isso insistia em dar-lhe(s) visibilidade, porque nunca compreendi como é que se processa o diálogo entre culturas invisíveis. Tal como não compreendo como é que se pode aprender, por exemplo, o léxico, desprendendo-o do contexto cultural.
Confesso, também, que uma outra das minhas dificuldades consistia em explicar aos formandos a diferença entre um conteúdo linguístico e um conteúdo discursivo. Por exemplo entre um nome e uma notícia - entre classificar o nome e escrever uma notícia. E não me refiro aos nomes não contáveis não massivos!
Espero, no entanto, que esses professores... quase titulares... estejam, hoje, radiantes com a possibilidade de explicaram aos seus alunos quanto o seu antigo professor estava errado. Para quê a cultura? Para quê a literatura? Para quê a genologia ?
Afinal, uns tantos protótipos e, sobretudo, uma boa terminologia linguística decalcada da terminologia anglo-saxónica é quanto basta! A matriz latina que se dane! Por algum motivo, o Latim fora excluído do curriculo dos Cursos de Letras!
Os mercenários nunca olharam a meios para encher os bolsos... e a cultura sempre foi um empecilho. Nem se percebe por que motivo ainda existe um Ministério da Cultura!
Na próxima remodelação desaparecerá!

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