23.10.06

Uma miragem inquietante...

Os que ainda trabalham começam demasiado tarde e todos ao mesmo tempo, entupindo as ruas como as folhas de Outono entopem as sarjetas.
Os chefes chegam tarde ou não chegam sequer. Qualquer subalterno pode abrir a porta da empresa, da oficina, da escola, do ministério. E se chegam, fazem-no sempre com um ar atarefado, não lhes sobrando tempo para identificar e analisar os problemas. E por isso já deixou de haver agenda, tudo vai correndo sobre rodas inexoráveis...
Se alguma coisa corre mal, a causa é sempre externa. Tornamo-nos vítimas. Comprazemo-nos na lamúria. O passado, os genes, a doença, o estrangeiro explicam tudo. Procuramos na diferença a explicação para a nossa decadência. Vivemos bem com os nossos estereótipos, convencidos da superioridade da nossa presença. Mas, se olhassemos à nossa volta, poderíamos perceber que a nossa sombra nos deixou sós...
A vontade de mudar, de contribuir para a mudança não passa de uma miragem inquietante... com cheiro a século XIX.

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