3.9.06

Não tem sentido fazer perguntas e esperar...

(…) perguntas que não obtêm respostas no momento exacto em que são feitas nunca mais são respondidas. Não há nenhuma distância a separar quem faz a pergunta daquele que lhe responde. Não há distância a transpor. Daí que não tem sentido fazer perguntas e esperar. Franz Kafka, Diários, 28 de Setembro de 1915. Poder-se-á dizer que este raciocínio deita por terra o velho estratagema do professor que, considerando a pergunta inoportuna, responde ao aluno que aquele não é o momento apropriado. De acordo com Kafka, a pergunta não admite qualquer tipo de espera. E, talvez seja essa a razão porque, muitas vezes, abdicamos de fazer perguntas. 2 de Setembro de 2006. (Vem esta reflexão a propósito de uma situação explosiva, vivida por uma velha mãe (83 anos) e de dois filhos igualmente velhos, apesar dos seus 55 e 57 anos (?), respectivamente.) Nenhum dos três revela qualquer tipo de auto-domínio verbal, podendo-se colocar mesmo a hipótese de a violência se transformar ou de já se ter transformado em agressão física. Numa tentativa de mediação e de compreensão da dimensão do problema, o mediador procura confrontar as partes, interrogando-as sobre a verdade das acusações proferidas. E, aqui, surge a grande dificuldade: o interrogado “corta” a pergunta, para, de imediato, encadear uma lista de argumentos que inutilizam qualquer esboço de diálogo. E se, momentaneamente, menos exaltado, ouvir a pergunta na totalidade, recusa-a, no entanto, para retomar histrionicamente a sua lamentação –acusação. E se pensarmos que esta procura de respostas se desenrola, quase sempre, em situações de tensão extrema, podemos compreender como é fundamental a formação dos actores (mediadores) solicitados a intervir nos diversos contextos sociais: escolas (sala de aula), esquadras, gabinetes de psicólogos / psiquiatras, tribunais, lares (de terceira idade e não só…), bairros marginalizados, estabelecimentos prisionais… Hoje, sei, que toda a pergunta merece uma resposta adequada, imediata. Mas também sei que não estamos preparados para ajudar a dar essa resposta. E creio que a dificuldade maior está em não sabermos formular as perguntas. Há, contudo, que ressalvar os cenários de auto-destruição, assim como os cenários de egotismo irredutível.
Nestes territórios, o mediador corre o risco de ser abatido.

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