13.9.06

Nenhum tapete é cego...

A caruma, ultimamente, tem estado menos reflexiva porque, como tapete que é, não tem podido ir além dos pés que, sorrateiramente, a vão calcando.
Este estatuto de tapete é, no entanto, um privilégio porque liberta a mente e deixa os olhos pousar livremente sobre os sinais do oportunismo e do laxismo que vão grassando pelas ruas das cidades e aldeias.
(Se o autocarro está a abarrotar - coisa que não deve ser verdade porque há anos que a Carris vem perdendo clientes! -, o passageiro, em vez de entrar pela porta de entrada, entra pela porta de saída... E o motorista sem nada ver... E atrás de um vão seis ou sete! E os outros, os cumpridores, lá ficam na paragem, surpreendidos, esboçando algumas palavras surdas.)
E os olhos da caruma que, pela sua natureza, podem ver de baixo para cima, andam um pouco desorientados, porque ninguém lhe explica por que motivo é que há tantas cadeiras vazias e, sobretudo, como é que se pode trocar de cadeira sem qualquer tipo de explicação... No meio da dança das cadeiras, quem se amolga é o tapete.
Fica, todavia, o reparo: nenhum tapete é cego.

1 comentário:

  1. Já nada espanta a tapetes cuja descrição há muito se habituou a ver o malabarismo da dança das cadeiras.
    Conquanto se não deixe pisar, mais do que permite a sua dignidade, um tapete tem destas vantagens - assistir serenamente a quem passa (que a condição é, mais devagar ou mais depressa, passar mesmo)e, quantas vezes, assistir igualmente às quedas que, sem querer, os tapetes provocam. Porque neles se tropeça ou neles se escorrega.
    Basta um deslize, como a falta de uma explicação, e vazias poderão ficar todas as cadeiras.
    Porém, continuará a dança!

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