13.6.06

Há dias, há noites...

«Há dias, há noites em que as águas se movem lentas na minha memória. Movem-se?» Eugénio de Andrade, Limiar dos Pássaros
I - Hoje, dia de Santo António, não pensei em nenhum arraial, não segui nenhuma liturgia.
Os ritos dizem-me cada vez menos, num mês em que o indivíduo cede o lugar à tribo - da pátria, do futebol, dos santos populares. Junho inicia um ciclo de convite ao lazer, com uma acelerada degradação da produtividade. Sempre que o Estio se aproxima, a economia estiola, apesar da propaganda que defende o turismo como um esteio da nossa economia.
II - Hoje, dia de Eugénio de Andrade e de Álvaro Cunhal, ouvi dizer que deixaram de ser lidos, que os seus biógrafos são mais escutados. Preferimos, de longe, a iconofilia à poética, à ideologia! Não admira: estamos no mês em que o indivíduo cede o lugar à tribo.
III - Hoje, quando passei, os nimbos ameaçavam despenhar-se sobre aquele silêncio de lápides. A tribo, taciturna, ignorava as serpentinas que caíam dos tectos, e seguia vagamente o voo mortífero das moscas...
IV - Amanhã, também é dia: a tribo vai desfilar, mortiça... atenta à iconografia...

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