24.4.06

A debilidade no Indie Lisboa

A curta-metragem ÉRAMOS POCOS, de Borja Cobeaga obriga-me a retomar o modo como encaramos a debilidade. Um pai-filho abandonados, respectivamente pela esposa -mãe dirigem-se a um lar para recuperar a sogra-avó que há muito tinham rejeitado. Mal se aproximam do salão repleto de velhos, são abordados por uma idosa que se faz passar pela desejada sogra-avó que se propõe alegremente acompanhá-los a casa.
Num cenário imundo e grotesco, a sogra-avó faz o milagre de de lhes fazer as compras, de lhes preparar uma refeição, de lhes arrumar progressivamente a casa sem que eles desconfiem da verdadeira identidade da velha. E mesmo quando o genro a descobre, prefere o silêncio dos cínicos a perder a criada que, afinal, viera substituir a esposa-mãe.
Esta história mostra-nos que na caruma da velhice, há muita senilidade que o não é e, sobretudo, que há muita debilidade no modo como enfrentamos a doença seja ela física ou mental.
Hoje, no Lar de São Bento, tive mais uma vez a oportunidade de me interrogar sobre o modo como tratamos os mais velhos - ali, sentados, à espera que lhes sirvam o lanche, em frente duma Escrava Isaura que nas suas memórias dura anos, sem saberem que se trata de uma reposição...
E no meio do lanche, três velhinhas que esperam pela hora de se dirigirem ao refeitório para poderem merendar... E uma delas que exclama: Eu tenho 94 anos, tenho 94 anos... E levanta-se a custo e caminha...
E aquele pai-filho, ali, à espera que a nova criada, risonhamente, lhes preparasse o jantar!

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